A Arte da Simplicidade
Em um mundo corrido e agitado, em que todos os dias são rapidamente preenchidos com atividades e em que completamos uma longa lista de tarefas, é muito fácil ignorar a alegria simples do “apenas sentar” na meditação e dos benefícios que isso pode trazer para nossa vida. Muitas vezes ficamos estressados correndo atrás do nosso próprio rabo, cuidando dos negócios, da família e de outros compromissos, mas a meditação é um momento fora da rotina diária de perseguir objetivos; permite que surja o espaço para a quietude e nos dá uma chance de lembrarmos a simplicidade do “apenas ser”.
Gostaria de compartilhar algumas instruções simples de um grande mestre de meditação sobre como praticar a arte da simplicidade. Dilgo Khyentse Rinpoche diz:
Pode-se dizer que a meditação é a Arte da Simplicidade: simplesmente sentar, simplesmente respirar e simplesmente ser.
Achei esta uma ótima descrição da prática da meditação e a levo todos os dias para a minha almofada. Em vez de fazer da meditação mais uma tarefa a ser realizada no meu dia, ela se torna um não fazer nada e me lembra da simplicidade do apenas sentar. Dilgo Rinpoche prossegue dizendo:
A meditação é uma das raras ocasiões em que não estamos fazendo nada. Em todo o resto do tempo, estamos sempre fazendo algo, estamos sempre pensando em algo, estamos sempre ocupados. Nós nos perdemos em milhões de obsessões e fixações. Mas meditando – não fazendo nada – todas essas fixações são reveladas e nossas obsessões naturalmente se desfazem como uma cobra se desenrolando.
A meditação pode se tornar uma busca de metas inatingíveis da iluminação suprema ou da perfeição relativa, mas quando apenas sentamos e apenas respiramos, não há mais expectativas e nem desejos por qualquer experiência espetacular. A meditação pode então se tornar a expressão da simplicidade ou, como ensinou o Mestre Zen Dogen, apenas sentar é a expressão da própria iluminação, sem qualquer outra coisa a ser acrescentada.
Talvez isso seja algo que tenhamos perdido em nosso mundo moderno – essa capacidade de apenas ficarmos quietos com contentamento. Sem ficarmos tentando alcançar alguma coisa ou constantemente melhorar a nós mesmos, podemos permitir que a simplicidade surja naturalmente. Isso é algo estranho para nós, mas desperta uma antiga lembrança da alegria do apenas ser.
Acho as instruções de meditação do Mahamudra – uma tradição de sabedoria tibetana – umas das mais profundas que já vi e é precisamente a simplicidade das instruções que as tornam tão brilhantes. O Mahamudra é encontrar paz e quietude deixando a mente ser como é, sem manipulá-la e sem tentar mudar coisa alguma; a consciência das coisas perfeitas assim como elas são. É um reconhecimento de que as coisas, assim como são agora, têm uma certa beleza, não importando as quão caóticas ou confusas elas possam parecer.
Quando deixamos a mente ser exatamente como é e simplesmente sentamos quietos e respiramos, a alegria da simplicidade e da autenticidade surge sem esforço. Sem forçar nada, apenas relaxe e perceba a tranquilidade de estar no agora. O famoso filósofo chinês Confúcio disse certa vez:
A vida é realmente simples, mas insistimos em torná-la complicada.
Para mim, a arte da simplicidade é permitir que as coisas sejam como são, sem manipulação ou fabricação. Você pode encontrar alegria e paz sempre que se permitir parar, ficar quieto e respirar conscientemente. Esse é o caminho da meditação e aprender a apreciar essas coisas simples da vida é verdadeiramente uma bênção.
Tentei fazer com que minha explicação sobre a simplicidade não fosse muito complicada, porque isso frustraria o propósito deste artigo. Simplicidade também implica uma capacidade de não ter que explicar intelectualmente cada coisa que acontece, mas, ao invés disso, aceitar as coisas como elas são com abertura e mistério.
Algo que deve ser experimentado ao invés de falado, e muitas vezes dizer as palavras “eu não sei” é a maneira de começar a relaxar em uma simplicidade inocente. A simplicidade está sempre disponível quando você se permite perceber a absoluta abertura do momento presente.
Depois que recebi a instrução de meditação que mencionei acima, fiz uma pergunta bem complicada ao professor sobre os detalhes psicológicos de suas instruções; eu esperava que ele se admirasse com a minha pergunta que era claramente bem elaborada. Sua resposta despertou algo em mim que nunca mais esquecerei – com seu forte sotaque tibetano ele cantou “let it be, let it be, let it be, let it be, whispering words of wisdom, let it be”.
Tradução livre de Jeanne Pilli do texto original de Chad Foreman (link)